sábado, março 11, 2006

Modernismo e Nacionalismo em António Ferro

1.º — MODERNISMO, glorificação e assunção da Hora, consciência aguda do fluir temporal e da necessidade de abandono das fórmulas mortas. É no presente que vivemos, mas voltados ao futuro. Um modernista, mas um modernista futurista.

2.º — NACIONALISMO, encontrado logo a seguir, em evolução paralela à que pode observar-se em Fernando Pessoa ou Almada Negreiros. A modernidade não destrói a noção de que, se o homem vive no seu tempo, também vive no seu espaço. Todavia, o que é temporal é a forma e a fórmula, é a epiderme e a superfície. Há linhas indestrutíveis, como a de uma tradição nacional. Assim, a mesma linha espiritual une manifestações tão diversas no tempo como o Auto da Índia de Gil Vicente, Os Lusíadas de Camões, os sermões do Padre António Vieira sobre o Quinto Império, a Pátria de Junqueiro e a Mensagem de Pessoa.
O futurismo em Portugal é uma modalidade do nosso tradicional messianismo. Assim foi para Fernando Pessoa e assim foi para António Ferro. Modernidade é neles actualização, porque procuram conjugar o espírito da Pátria com os novos condicionalismos da vida moderna. É uma exigência de movimento, cujo processo está bem patente na Ode Marítima.

ANTÓNIO QUADROS