domingo, julho 09, 2006

Ainda há destes?...

Tantos — e todos iluminados de fé, de ardor combativo, de intrepidez criadora! É Caldas Xavier — «português de ouro como os dos bons tempos da conquista», na frase que lhe consagra Mouzinho — a defender na Mopeia (1884) apenas com um irmão cego, um estrangeiro e dois índios, numa pequena casa de zinco, contra milhares de gentios. É o valente e decidido Eduardo Costa. É João de Almeida, o pacificador dos Dembos, donde regressa mal convalescente de graves doenças e a sangrar ainda dos ferimentos recebidos. É Aires de Ornelas — «o Maguiguana branco», chamam-lhe os cafres — que em Marracuene se multiplica a exortar os soldados à resistência e em Coolela escreve impassível o seu diário, debaixo de fogo, com a terra levantada pelas balas a secar-lhe, por vezes, a tinta do caderno. É Paiva Couceiro que, entre mil temeridades impossíveis de enumerar, realiza essa coisa inverosímil de, com cinco homens, avançar a cavalo para o meio de centenas de negros de azagaias em riste e armas aperradas, e reclamar em voz imperativa a Pasman, irmão do régulo de Cossine, a entrega do rebelde Matibejana, enquanto «lá em baixo», conta António Enes, «os auxiliares, estupefactos, esperam vê-lo cair do cavalo, varado por uma bala ou uma azagaiada...». É João de Azevedo Coutinho que um dia, surpreendido no banho pelo ataque do inimigo, vem a correr, nu, tomar o comando, lutar com denodo até vencer — e mais tarde, na primeira campanha do Barué, com o corpo horrivelmente queimado por uma explosão de pólvora e o braço atravessado por uma bala, ainda dirige a retirada dificílima, salva os seus homens, acaba por ficar cego durante dois meses, cheio de cicatrizes derivadas das queimaduras. E outros mais, desde os Chefes aos ínfimos combatentes — alguns dos modelos mais notáveis de Portugueses que existem na História.
História de Portugal, João Ameal.

6 Comments:

Blogger Je maintiendrai said...

Haver haverá... Os netos de uns andam pela blogosfera, outros às ordens do Jardim e do Belmiro; dos cafres, vá vê-los à Cova da Moura ou a dançar rap nos live shows da tv matinal...

11:45 da manhã  
Blogger Victor Abreu said...

Claro que há! Só que não há contexto para se manifestarem e destacarem. Um, pelo menos, está na Inglaterra e é treinador de futebol, é um líder e um vencedor por natureza. Só nos resta a bola. Estou, infelizmente, a falar a sério.

2:48 da tarde  
Blogger Flávio Santos said...

«Só que não há contexto para se manifestarem e destacarem.» Ora aí está, fizeram de um bravo povo uma massa amorfa de fraca gente.

11:25 da manhã  
Blogger JSM said...

Caro Mendo Ramires
O diagnóstico está feito mas o doente não quer curar-se! Terá de ser persuadido. As primeiras e indispensáveis medidas seriam: fechar todas as 'fábricas de direitos', que continuam nacionalizadas , ( jardins de infância, escolas e universidades), e substituí-las por 'fábricas de deveres', a cargo da sociedade civil, que ainda exista, e a cargo, naturalmente, de quem está habituada a fabricar heróis e mártires - a Igreja Católica!
Fica a receita.
Um abraço.

12:18 da tarde  
Blogger Je maintiendrai said...

Perdão, perdão, refere-se à NOSSA Igreja Católica?

12:41 da tarde  
Blogger JSM said...

Caro Mendo ramires
E Caro comentador, a Igreja não é nossa, a Igreja somos nós, fiéis e ministros, sofrendo também ela as agruras do tempo, as nossas agruras. Mas como permanece ligada à Salvação acreditamos que tem o dom de orientar os povos no estreito caminho do dever. Os direitos vêm depois.
Nestas condições, enquanto a mensagem do Evangelho permanecer, sim, a Igreja pode e deve iluminar a vida de crentes e não crentes.
Mas agora reparo que a receita não foi posta em causa, apenas um dos seus componentes, talvez o seu princípio activo! Mas quem a substituiria?
Um abraço.

4:08 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home