O amigo
Aba — senhor de um
espaço cultural de notável bom-gosto — mostra surpresa, numa caixa-de-comentários cá da Torre, por eu gostar da Música anteriormente referida; diz ele que me imaginava apenas apreciando "Música Clássica". (O que de seguida vou dizer não o visa como destinatário, pois já percebi que ele tem a (velha)
escola toda!).
Essa sua simpática observação serve-me, pois, apenas, de
leitmotiv para abordar um tema — assim, ao correr das teclas, como quem não quer a coisa ... — que, desde sempre, me
atormentou.
Hoje em dia, as pessoas, ao conhecerem outras, tentam, de imediato, arrumá-las em compartimentos pré-estabelecidos na sua cabeça; esta, por sua vez, foi formatada pelas balizas culturais que lhe são servidas (nas famílias, nas escolas, nos trabalhos). É normal, e até desejável, que assim seja. O problema começa quando, mesmo sem querer, isso se torna uma obsessão tipo
quebra-cabeças e os tiros saem todos ao lado. A razão, para que o tiro-ao-alvo falhe, está bem de ver qual é. A sociedade — e não a tradicional e boa comunidade — tem a cabeça cheia de preconceitos que lhes foram impingidos pelos "
leaders de opinião". A coisa já dura desde finais da II Guerra Mundial e não há meio de mudar — para só falar dos tempos contemporâneos, dentro da modernidade a que temos direito.
Não se pense que estou já a preparar um ataque ao desgraçado deslumbramento e provincianismo português. Não. Aconteceu-me em Londres, por exemplo, nos meus tempos de estudante, solteiro e
bom-rapaz, pôr as inglesas — da casa onde vivi — à beira de um ataque de nervos quando não conseguiam estabelecer pontos de contacto entre os livros que eu lia, a roupa que vestia, os concertos que frequentava, os jornais e revistas que comprava... Entendamo-nos: para aquele frio raciocínio britânico — temperado, no entanto, por calor humano —, quem veste isto não lê esse jornal e quem lê este livro não pode ler também aquele e muito menos quem fala com estes vai àqueles concertos...!
Escusado será dizer que, em Portugal, o mesmo me acontece — desde que penso pela minha própria cabeça — quase todos os dias...! Se, do ponto-de-vista individual, esta situação é desagradável à primeira vista, pode, no entanto, tornar-se divertida se estivermos com disposição e tempo para
gozar o prato. O
pessoal (pós-)moderno não está preparado para lidar com a diferença não
etiquetada (a treta da igualdade — bem niveladinha por baixo — deu-lhes volta à cabeça); e, tudo o que saia da grelha é um sarilho para aquelas cachimónias.
Já do ponto-de-vista político vai ser a doer.
Por estas e outras, o Sistema terá uma surpresa brutal: a imagem que a ditadura cultural de esquerda andou a vender da «extrema-direita», durante anos, não existe; e, as pessoas já descobriram. A Direita é diversificada e tem aí a sua maior riqueza, contrariamente à
sinistra. Saiba o Nacionalismo crescer na Unidade da diversidade e o III Milénio será de Ressurreição.